
Assisti ao filme “Caminhos da Memória” (“Reminiscence”, 2021). Interessante, mas não imperdível. As cenas de Miami tomada pelo mar ficaram muito boas. É incrível o que a computação gráfica consegue atualmente. Já a teoria política subjacente é bem rasa, na linha “nós somos os 99%”.
Rebecca Ferguson quase convence como musa dos anos 30. Hugh Jackman não se sai tão bem como personagem central de um filme noir. O esperado cinismo está mais para exaustão existencial, embora mitigado, como também esperado, por um romantismo mal disfarçado.
Por razões que não ficam claras totalmente*, Jackman não tem futuro, apenas passado. Não por coincidência, embalado por “Where or When” (1937), ele se apaixona por uma típica “femme fatale” de uma América há muito desaparecida.
No final, dá as costas ao mundo e se refugia em lembranças de um momento idílico, deixando que outros decidam os destinos da humanidade. O filme acaba sendo uma metáfora sobre o beco sem saída a que estariam condenados, segundo uma certa visão identitária, os assim chamados “homens brancos cisgêneros”. Esse tipo de maniqueísmo, quando demasiado explícito, não costuma ser bem recebido. Parece ser este o caso.
(*) Embora pareça razoável presumir, em face do desfecho do filme, que se trata de mais um personagem compelido a internalizar a culpa pelo patriarcado, pelo imperialismo, pela mudança climática e outros tantos males a requerer culpados para certos juízos morais.